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domingo, 21 de agosto de 2011

Proustiana (I)

A quem me pergunta a razão do título Limiares, dou por ora duas razões apenas, pois as demais cairão de maduras, quando tocadas pela brisa da primavera: primeira – a noção de limiar é um autêntico útero de analogias; segunda – seu valor cognitivo. A esta, explico apenas parcialmente: vejo o limiar como importante constructo heurístico e teórico, ou seja, tem papel essencial na revelação de aspectos escusos da realidade, além de favorecer sua compreensão.


Examino um exemplo da virtualidade heurística da noção de limiar em artigo com recorte micrométrico de Forrest Gump, polêmico filme de Robert Zemeckis (1994). Isso consta em livrinho que organizei quando ainda era doador de sangue ao ensino, em tempo integral, durante minha vida universitária – Semiótica: olhares (Edipucrs, 2000*).

Outro exemplo, extremamente mais rico, ocorre em O tempo redescoberto, de M. Proust. Na última parte da narrativa, Marcel, o protagonista narrador, relata o que lhe sucede ao participar de uma recepção na casa do príncipe de Guermantes. De há muito afastado da vida social, frustrado pela própria incapacidade para ser escritor, ele se decide pelos «prazeres frívolos». Mas lá chegando, é envolvido por uma sequência de mínimos eventos: o primeiro é o passo em falso, em uma das pedras do calçamento, que leva seu corpo ao limiar do equilíbrio. A seguir uma série de outros pequenos incidentes deflagra o limiar que toma de assalto seu espírito, através de duas intuições: uma é vetor que o encaminha para o passado; outra, a força que o orienta para o futuro.

Voltarei a falar de ambas. E do limiar que as engendrou...
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*Acesso provável pelo Google Books; em http://www.google.com.br/search?tbm=bks&tbo=1&q=DINO+DELPINO).

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